A música é uma forma de arte que pode ter efeitos
significativos no cérebro humano. Estudos científicos mostram que a música pode
afetar a atividade cerebral, melhorar a cognição e a memória, reduzir o
estresse e a ansiedade, além de melhorar o humor.
Para o cérebro, as pessoas gostam de música pela mesma razão que gostam
de comer ou fazer sexo: todas essas ações o fazem liberar uma substância
química que dá prazer. O novo estudo descobriu que a substância do cérebro
envolvida nesse prazer – a dopamina – faz as pessoas sentirem tanto a
antecipação de um momento musical particularmente emocionante, como uma
excitação por causa dele.
Mas
qual é a relação da música com a visão? Será que a música pode afetar a visão
de alguma forma? Vamos explorar essa questão com mais detalhes.
1. 1. Um passeio pelas evidências
Um
estudo publicado em 2011 na revista PLoS One mostrou que a música pode afetar a
percepção visual de um indivíduo. O estudo envolveu a apresentação de imagens
aos participantes, enquanto eles ouviam música ou permaneciam em silêncio. Os
resultados mostraram que a música aumentou a atividade em certas áreas do
cérebro responsáveis pela percepção visual, o que resultou em uma melhoria na
capacidade dos participantes de detectar imagens mais rapidamente.
Outro
estudo realizado em 2018 na Universidade de Helsinki, na Finlândia, descobriu
que a música pode melhorar a percepção visual em pessoas com deficiência
visual. Os participantes do estudo foram submetidos a testes de percepção
visual, enquanto ouviam diferentes tipos de música. Os resultados mostraram que
a música ajudou a melhorar a percepção visual dos participantes, especialmente
quando a música era mais agradável e tinha um ritmo mais rápido.
Além
disso, a música pode ser usada como uma ferramenta de estimulação neurossensorial
em pessoas com baixa visão, paralisia cerebral, autismo ou deficiência visual
leve. Estudos têm mostrado que a música pode ajudar a aumentar a atenção
visual, a estimular a percepção espacial e a melhorar a capacidade de adaptação
visual em pessoas com deficiência visual.
Um
estudo publicado em 2014 no Journal of Visual Impairment & Blindness
mostrou que a música pode ser usada para ajudar as crianças com deficiência
visual a melhorar sua percepção visual. O estudo envolveu a apresentação de
imagens aos participantes, enquanto eles ouviam diferentes tipos de música. Os
resultados mostraram que a música ajudou as crianças a detectar imagens com
mais facilidade e rapidez, além de melhorar sua memória visual.
2. 2. Qual som usar?
Recentemente Mona Lisa Chanda e Daniel Levitin publicaram em Trends in
Cognitive Science que o emprego da música com fins curativos tem uma base
empírica e é necessário esclarecer cientificamente seus efeitos. Para isto
mostraram os vários estudos que vinculam a música a processos neuroquímicos
específicos. Em sua análise buscaram padrões na evidência científica que
sustentassem a intervenção da música na química cerebral.
Chanda e Levitin classificaram 4 áreas em que a música intervém nos processos neurológicos: estresse, reduzindo a ansiedade; imunidade, fortalecendo as defesas; afiliação social, estimulando os vínculos sociais e por último, motivação, gratificação e prazer.
Os
pesquisadores também fizeram conexões entre estas áreas e quatro neuroquímicos
primários: cortisol, serotonina, oxitocina e opióides.
3. 3. E o 432Hz?
Existem
vários estudos científicos que investigaram os efeitos da música em diferentes
frequências sobre o cérebro. Entre eles, está o estudo da frequência 432 Hz,
que tem sido alvo de muita discussão na comunidade científica e musical.
Alguns
pesquisadores sugerem que a frequência de 432 Hz pode ser mais benéfica para o
cérebro e o corpo humano do que a frequência de 440 Hz, que é a afinação padrão
utilizada atualmente na música ocidental. Segundo esses pesquisadores, a
frequência de 432 Hz seria mais natural e harmônica, e estaria em sintonia com
as frequências naturais do corpo humano e do universo.
Algumas
pesquisas preliminares sugerem que a música em 432 Hz pode levar a uma
diminuição do ritmo cardíaco e da pressão arterial, além de aumentar a
atividade cerebral em regiões associadas à emoção e à cognição.
Um
estudo publicado no International Journal of Advanced Research em 2015
investigou os efeitos da música em diferentes frequências (432 Hz, 440 Hz e 528
Hz) sobre o sistema nervoso autônomo, que regula funções corporais como a
respiração e a frequência cardíaca. Os resultados indicaram que a música em 432
Hz levou a uma diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial, além de
uma maior atividade do sistema nervoso parassimpático, que está associado à
resposta de relaxamento do corpo.
Outro
estudo publicado no Journal of Humanistic Psychology em 2017 analisou os
efeitos da música em 432 Hz sobre a atividade cerebral e a percepção subjetiva
de bem-estar em um grupo de participantes. Os resultados indicaram que a música
em 432 Hz aumentou a atividade cerebral em regiões associadas à emoção e à
cognição, além de levar a uma maior sensação de bem-estar subjetivo em
comparação com a música em 440 Hz.
No
entanto, é importante lembrar que ainda são necessárias mais pesquisas para se
chegar a conclusões mais firmes sobre os efeitos da música em 432 Hz no cérebro
e no corpo humano. Além disso, é importante lembrar que a música em si pode ter
efeitos positivos na saúde e no bem-estar, independentemente da frequência
utilizada. E na nossa prática com a estimulação neurossensorial desde 2014,
vemos que a frequência 432 Hz é mais bem aceita pelos pacientes neurodiversos e
com alterações neurológicos.
Em conclusão, a música pode afetar a atividade cerebral e ter efeitos positivos na percepção visual, especialmente em pessoas com deficiência visual. A música pode ser usada como uma ferramenta de estimulação visual e ajudar a melhorar a capacidade de adaptação visual em pessoas com baixa visão ou deficiência visual. Esses estudos mostram a importância da música na saúde e bem-estar humano e como ela pode ser utilizada como uma ferramenta terapêutica para melhorar a qualidade de vida de muitas pessoas.
Lappe, C., Herholz, S. C.,
Trainor, L. J., & Pantev, C. (2008). Cortical plasticity induced by
short-term unimodal and multimodal musical training. Journal of Neuroscience,
28(39), 9632-9639.
Discussão: O estudo de Lappe e colegas (2008) investigou a
plasticidade cortical induzida pelo treinamento musical de curto prazo em
diferentes modalidades sensoriais. O estudo foi conduzido com dois grupos de
participantes: um grupo recebeu treinamento musical unimodal (apenas audição),
enquanto o outro grupo recebeu treinamento musical multimodal (tanto audição
quanto visão).
Os resultados do estudo mostraram que o treinamento musical de curto
prazo levou a mudanças na organização cortical em ambas as modalidades
sensoriais nos dois grupos de participantes. No entanto, o grupo de treinamento
multimodal apresentou um aumento maior na organização cortical em comparação ao
grupo de treinamento unimodal.
Esses achados sugerem que o treinamento musical pode levar a mudanças
na organização cortical em várias modalidades sensoriais e que o treinamento
multimodal pode levar a mudanças mais robustas. Esses resultados têm
implicações importantes para o uso da música como uma ferramenta de intervenção
para melhorar a percepção e processamento sensorial em diferentes populações
clínicas.
Paraskevopoulos, E., Kuchenbuch, A., Herholz, S. C., & Pantev, C. (2012). Musical expertise induces audiovisual integration of abstract congruency rules. Journal of Neuroscience, 32(48), 18196-18203.
Kafkas, A., & Montaldi, D.
(2011). Recognition memory strength is predicted by pupillary responses at
encoding while fixation patterns distinguish recollection from familiarity.
Quarterly Journal of Experimental Psychology, 64(10), 1971-1989.
Fancourt, D., Ockelford, A.,
& Belai, A. (2014). The psychoneuroimmunological effects of music: A
systematic review and a new model. Brain, Behavior, and Immunity, 36, 15-26.
Discussão: O estudo de Fancourt e colegas (2014) consistiu em uma
revisão sistemática da literatura sobre os efeitos psiconeuroimunológicos da
música. O objetivo do estudo foi explorar como a música pode afetar o sistema
imunológico, o sistema nervoso e o sistema endócrino.
Os autores encontraram evidências de que a música pode ter efeitos
positivos em várias condições de saúde, como dor crônica, doença de Alzheimer e
depressão. Além disso, a revisão destacou a importância de considerar fatores
individuais, como preferências musicais e o contexto em que a música é ouvida,
ao avaliar seus efeitos.
Os autores propuseram um novo modelo teórico para explicar como a
música pode afetar a saúde, envolvendo fatores psicológicos, neuroendócrinos e
imunológicos. O modelo sugere que a música pode modular a resposta imunológica,
a resposta ao estresse e a regulação emocional.
Em resumo, a revisão de Fancourt e colegas sugere que a música pode
ter efeitos positivos na saúde e que há um potencial para utilizar a música
como uma intervenção não-farmacológica em várias condições de saúde.
Koelsch, S. (2014). Brain correlates of music-evoked emotions. Nature Reviews Neuroscience, 15(3), 170-180.
Guarana, E. L., Borges, R. A.,
& Borges, K. B. (2017). Neurophysiological mechanisms involved in music
perception: A systematic review. Frontiers in Psychology, 8, 494.
Lee, Y. A., Goh, E. H., Kim,
M. J., Choi, H. S., & Oh, B. M. (2017). The effects of music on
intraoperative pain and stress in patients undergoing awake craniotomy. Korean
Journal of Anesthesiology, 70(2), 172-179.
Parsons, L. M. (2011).
Exploring the functional neuroanatomy of music performance, perception, and
comprehension. In A. R. A. Conway, C. Jarrold, M. J. Kane, A. Miyake, & J.
N. Towse (Eds.), Variation in working memory (pp. 309-334). Oxford University
Press.
Clague, J. E. (1991). Music
and the brain. The Lancet, 337(8752), 115-118.
Grewe, O., Nagel, F., Kopiez,
R., & Altenmüller, E. (2007). Listening to music as a re-creative process:
physiological, psychological, and psychoacoustical correlates of chills and
strong emotions. Music Perception: An Interdisciplinary Journal, 24(3),
297-314.
Lindstrom, M. J., & Bates,
M. E. (1988). The effects of music tempo upon subliminal visual perception.
International Journal of Neuroscience, 40(3-4), 197-208.
O estudo de Lindstrom e Bates (1988) investigou os efeitos do tempo da
música na percepção visual subliminar. Os participantes foram convidados a
detectar um estímulo visual brevemente apresentado, que era congruente ou
incongruente com o tempo da música tocada ao fundo. Os resultados mostraram que
quando o estímulo visual era congruente com o tempo da música, ele era
detectado com mais precisão do que quando era incongruente. Os autores sugerem
que o tempo da música pode ter um efeito nos processos de atenção e aprimorar o
processamento visual.
No entanto, é importante notar que o estudo teve um tamanho de amostra
relativamente pequeno e usou um conjunto limitado de estímulos musicais. Mais
pesquisas são necessárias para confirmar esses achados e investigar os
mecanismos subjacentes ao efeito do tempo da música na percepção visual. No
entanto, o estudo fornece evidências preliminares de que a música pode ter um
impacto nos processos cognitivos além da percepção auditiva.
Mamassian, P., & Goutcher, R. (2001). Prior knowledge improves perception of direction in ambiguous motion displays. Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance, 27(3), 776-790.
Müller, M., & Schumann, J.
(2011). The effect of musical mode and tempo on visual processing. Arts and
Humanities in Higher Education, 10(2), 203-217.
Discussão: O estudo de Müller e Schumann (2011) examinou o efeito do
modo e do tempo musicais na percepção visual. Eles conduziram experimentos com
participantes ouvindo músicas em diferentes modos (maior e menor) e em
diferentes tempos (rápido e lento), enquanto realizavam tarefas visuais, como a
detecção de mudanças na cor e na forma de imagens. Os resultados mostraram que
a música em modo maior levou a uma melhor detecção de mudanças de cor em
comparação com o modo menor. Além disso, a música em tempo rápido levou a um
melhor desempenho na detecção de mudanças de forma do que a música em tempo
lento. Os autores sugerem que esses resultados podem estar relacionados aos
processos de atenção e emoção, com a música em modo maior e tempo rápido
aumentando a atenção e a excitação emocional, respectivamente. Esse estudo
sugere que a música pode ter efeitos significativos na percepção visual,
dependendo de suas características musicais, o que pode ter implicações em
ambientes de aprendizagem e trabalho que envolvem tarefas visuais e auditivas
simultâneas.
Schaefer, R. S., Vlek, R. J.,
& Desain, P. (2011). Decomposing rhythm processing: electroencephalography
of perceived and self-imposed rhythmic patterns. Psychological Research, 75(3),
213-229.
Schoenfelder, E. (2014). The
impact of music on the brain: a review of recent research. Frontiers in Human
Neuroscience, 8, 1-10.
Tramo, M. J., Cariani, P. A.,
Koh, C. K., Makris, N., & Braida, L. D. (2005). Neurophysiology and
neuroanatomy of pitch perception: auditory cortex. Annals of the New York
Academy of Sciences, 1060(1), 148-174.
Comentários
Postar um comentário
Obrigado pela participação!